Não quero nesta reflexão comparar Martin Luther King a Jesus,
mas apontar as semelhanças entre ambos na luta pela causa pelo fim das
injustiças sociais entre as pessoas. Abordar semelhanças nas ações,
metodologia, ambiente social e público-alvo.
O discurso entre ambos é o que mais
me chama atenção, pois se lermos os ditos de Jesus nos evangelhos e o de Martin
L King em 1963, vemos que ambos se dirigem ao povo pobre, excluído e segregado
– israelenses pela religiosidade oficial e norte-americanos pelo cor da pele –
mas que despejam contra os líderes do povo sua insatisfação, compaixão e amor
pelos pobres.
Tanto Jesus quanto Martin defendem as causas do seu povo, não é o que
poderíamos exemplificar como “um rico defendendo a causa do pobre, ou um branco
lutando ao lado dos negros”. Aqui tanto um quanto o outro fazem parte do povo
que eles representam. Jesus vindo da pobre Nazaré, ao norte de Israel que fazia
fronteira com a Fenícia e a Síria, longe do centro político, econômico e
religioso que era Jerusalém ao sul, representava todos os pobres de
Israelenses, assim como ele o era. Martin nasceu em Atlanta, estado da Geórgia,
sua família era composta por agricultores no sistema de arrendamento. Enquanto
pastor batista por quarenta anos em plena crise da Depressão Americana,
mobilizara a comunidade para impedir o fechamento da Igreja Batista Ebenezer,
que o fez com sucesso. Com isso tornou-se influente entre os negros e certa
parte dos homens brancos de Atlanta. Martin foi tão influente na política
norte-americana que através de sua indicação à candidatura a presidência pelo
partido democrata, Carter venceu as eleições em 1976. Todo este prestígio foi
resultado de várias ações partindo da Geórgia, como a defesa da classe dos
professores, exploração das empresas de transporte e direitos civis dos negros.
Jesus e Martin L King usam uma
metodologia semelhante para falar para seu povo e ser plenamente compreendido.
Jesus usava as parábolas com símbolos comuns da cultura judaica como figueira,
ramos, semeador, dracma, alqueire, dentre outras. Jesus utilizava palavras que
estavam no dia-a-dia de seu povo, eram muitas vezes árvores, frutos,
instrumentos de trabalho, móveis, fenômeno da natureza dentre outros. Em seu
célebre discurso Martin L King utiliza-se de um vocabulário muito usado para a
década de 1960, como por exemplo cheque, promissória, fundos insuficiente,
verão/outono, xícara da amargura, dentre outros. Com certeza o povo americano
sabia bem qual a importância do cheque para o cotidiano econômico da nação e as
heranças do chá da tarde, típico de países colonizados pela Inglaterra.
Apesar de épocas tumultuosos de
defesa de direitos, Jesus e Martin L. King conviveram a sobra da violência e da
repressão, tanto um quanto foram presos por tentarem chocar o estado com suas
ideias de igualdade social, o primeiro morto pelo Estado romano e o segundo
liberto pelo Estado americano. Mesmo assim ambos chamam seu ouvintes para a
responsabilidade que tinham de promulgar a paz entre os homens. Martin em seu
discurso clama para que brancos e negros se deem as mãos como irmãos e Jesus
choca a sociedade judaica cuidando de samaritanos, fenício-sírios, romanos e
judeus. Ambos não encintavam a violência entre seus seguidores, Martin em seu
discurso deixa isso bem claro e Jesus ao repreender Pedro que atacara um
soldado romano ao defender seu mestre, ou padecer na mãos de seus inimigos
calado como relatam os evangelhos.
Por fim,
Jesus e Martin eram dois líderes religiosos de muita influência entre os seus e
odiados pelos seus opositores. Martin liderava uma massa de homens negros e
simpatizantes brancos inicialmente do sul das doze colônias, já Jesus desde sua
terra, Nazaré ao norte de Israel até Jerusalém ao sul, congregava em torno de
si uma grande multidão de adeptos e inimigos. Ambos eram religiosos, um era
pastor e líder da denominação Batista Ebénezer e o outro chamado de rabi pelos seus ouvintes, título dado
aos mestre da lei que ensinavam a palavra de Iahweh para o povo. Não dá para
situá-los numa luta por justiça social fora de suas influências religiosas,
neste contexto a religião serve de trampolim para Martin chegar a fazer esse
famoso discurso em Washington e Jesus utiliza-se dos espaços sagrados para o
judaísmo como o Templo de Jerusalém e as sinagogas espalhados por Israel onde
curava e ensinava ao povo.