domingo, 13 de abril de 2014

LUTERO: Como os Cristãos devem lidar com Moisés (Parte I)

           
            Esta obra foi publicada como introdução teológica para a publicação em alemão sobre as prédicas de Lutero sobre o livro de Gênesis, de 1527. Também foi publicada antes da “Explicação sobre os Dez Mandamentos”, nas prédicas de Lutero a cerca do livro de Êxodo em 1524 e 1525. Seu objetivo é maior é fundamentar a leitura correta de Moisés, principalmente entre Lei e Evangelho, onde o que é Palavra de Deus para Israel e o que é Palavra de Deus para todas as criaturas.
            De fato o tema sobre Lei e Evangelho ganha muita força na teologia de Lutero, pois alguns nomes da Reforma, numa tentativa de utilizá-lo para fins de opressão ou de justificação do uso da violência em conflitos armados, como aconteceu na Guerra dos Camponeses em 1525, na região da Turíngia (um estado localizado no meio da Alemanha), força Lutero a elaborar uma distinção entre ambos os conceitos. Entretanto devemos compreender que Lutero não faz oposição entre Lei e Evangelho, mas define um e o outro como um dos fundamentos da teologia cristã reformada. A título de esclarecimento, Lutero desloca a situação da pessoa no Antigo para o Novo Testamento, onde no Primero Testamento a Lei mostra o pecado e destrói o pecador, porém já no Segundo Testamento a pessoa é conduzida pela Graça de Deus a fim de cumprir a Lei em Cristo.

            Segundo Lutero, Deus se pronunciou duas vezes publicamente trazendo sua mensagem para a humanidade. A primeira mediante Moisés para todo o povo hebreu, ao qual foi anunciado o Decálogo, era Deus apresentando sua Lei. A segunda vez, foi através de seu Filho Jesus Cristo e dos apóstolos (aqui através do Espírito Santo) para todos os povos anunciados a sua Palavra, era Deus apresentando o Evangelho. Segundo ele ainda, não houve e não haverá mais outra pregação pública direta dos céus, com grande poder e glória, que aqui são apresentados pelas palavras “magnificência” e “aparato exterior” como raios, trovões, nuvens etc. (cf. Ex. 20; At. 2,1). A terceira pregação pública de Deus, segundo Lutero, será na vinda de Cristo onde todos irão ouvir e estremecer diante da sua voz.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Vol. 8, tradução de Adolfo Schimidt, Eduardo Gross, Elisa L. Schulz, Luís H. Dreher, Walter O. Schlupp. São Leopoldo/ RS: Sinodal, Porto Alegre/RS: Concórdia Editora, 2003.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

DIACONIA: ATO EVANGÉLICO DE COMPROMISSO SOCIAL

Na Jornada Mundial da Juventude – JMJ no Rio de Janeiro em 2013, o papa Francisco chama atenção dos jovens católicos para o compromisso da evangelização. Aos líderes o pontífice instiga-os para saírem de suas paróquias, pois o povo está nas ruas, nos subúrbios e esse deveria ser o lugar dos católicos, no meio do povo que precisa ser visto com compaixão. Talvez o papa Francisco tenha lido o evangelho segundo São Marcos antes de vir ao Brasil.
O fato não se concentra nos religiosos católicos e sim dos cristãos em geral. Jesus ao responder o pedido dos discípulos para que a multidão fosse dispensada para suas casas para que cada um pudesse se alimentar, Jesus replica “Dai-lhes vós de comer” (Mc. 6.37a). Será que essa realidade não se repete hoje em dia? Jesus não quer que a multidão vá embora, porque elas não sabem para onde ir. Os discípulos queriam se livrar da multidão, enquanto Jesus imperativamente os chama a responsabilidade de cuidar das pessoas.
 A partir disso proponho a seguinte reflexão: Porque preferimos os que necessitam de ajuda bem longe de nós, mas dizemos que amamos estar na presença de Jesus? Existe aqui um antagonismo desolador. Os discípulos estavam com Jesus, mas não compreendiam o que isso implicava. Preferimos alimentar nossa religiosidade, assim como fazia os líderes judeus, ao nos comover com a situação do outro e ser impulsionado por este sentimento à uma ação energética como fazia Jesus de Nazaré. Porque não damos nós mesmos o pão? Jesus daria.
Diaconia é serviço e Jesus o fazia à olhos de todos, como ele mesmo afirmou que não
veio para ser servido e sim para servir (Mc 10.45b). Os discípulos não entendiam isso, e talvez o cristianismo como se dá hoje em dia não se interesse. Não é um serviço temporário como em desastres ambientais, acidentes etc. Jesus o fazia por apenas existir a exclusão. Dizer que é seguidor de Jesus é se engajar na luta contra as injustiças sociais em suas múltiplas formas, mas principalmente com o que temos, sendo pouco ou muito, mas podemos servir as pessoas que necessitam se houver compaixão em nós, assim como foi recolhido dentro o povo cinco pães e dois peixes e isso foi o suficiente para saciar a fome da multidão, assim podemos multiplicar o pouco em bastante ou em suficiente para amenizar a dor de quem não tem nada. Assim como o papa Francisco declarou para os católicos,e que declaro de forma mais geral: que possamos sair de nossas igrejas e ir ao encontro dos que necessitam encontrar um rumo, uma esperança, um sentido.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

JESUS, MARTIN LUTHER KING E OS EXCLUÍDOS

       
          Não quero nesta reflexão comparar Martin Luther King a Jesus, mas apontar as semelhanças entre ambos na luta pela causa pelo fim das injustiças sociais entre as pessoas. Abordar semelhanças nas ações, metodologia, ambiente social e público-alvo.

O discurso entre ambos é o que mais me chama atenção, pois se lermos os ditos de Jesus nos evangelhos e o de Martin L King em 1963, vemos que ambos se dirigem ao povo pobre, excluído e segregado – israelenses pela religiosidade oficial e norte-americanos pelo cor da pele – mas que despejam contra os líderes do povo sua insatisfação, compaixão e amor pelos pobres.
            Tanto Jesus quanto Martin defendem as causas do seu povo, não é o que poderíamos exemplificar como “um rico defendendo a causa do pobre, ou um branco lutando ao lado dos negros”. Aqui tanto um quanto o outro fazem parte do povo que eles representam. Jesus vindo da pobre Nazaré, ao norte de Israel que fazia fronteira com a Fenícia e a Síria, longe do centro político, econômico e religioso que era Jerusalém ao sul, representava todos os pobres de Israelenses, assim como ele o era. Martin nasceu em Atlanta, estado da Geórgia, sua família era composta por agricultores no sistema de arrendamento. Enquanto pastor batista por quarenta anos em plena crise da Depressão Americana, mobilizara a comunidade para impedir o fechamento da Igreja Batista Ebenezer, que o fez com sucesso. Com isso tornou-se influente entre os negros e certa parte dos homens brancos de Atlanta. Martin foi tão influente na política norte-americana que através de sua indicação à candidatura a presidência pelo partido democrata, Carter venceu as eleições em 1976. Todo este prestígio foi resultado de várias ações partindo da Geórgia, como a defesa da classe dos professores, exploração das empresas de transporte e direitos civis dos negros.
            Jesus e Martin L King usam uma metodologia semelhante para falar para seu povo e ser plenamente compreendido. Jesus usava as parábolas com símbolos comuns da cultura judaica como figueira, ramos, semeador, dracma, alqueire, dentre outras. Jesus utilizava palavras que estavam no dia-a-dia de seu povo, eram muitas vezes árvores, frutos, instrumentos de trabalho, móveis, fenômeno da natureza dentre outros. Em seu célebre discurso Martin L King utiliza-se de um vocabulário muito usado para a década de 1960, como por exemplo cheque, promissória, fundos insuficiente, verão/outono, xícara da amargura, dentre outros. Com certeza o povo americano sabia bem qual a importância do cheque para o cotidiano econômico da nação e as heranças do chá da tarde, típico de países colonizados pela Inglaterra.

            Apesar de épocas tumultuosos de defesa de direitos, Jesus e Martin L. King conviveram a sobra da violência e da repressão, tanto um quanto foram presos por tentarem chocar o estado com suas ideias de igualdade social, o primeiro morto pelo Estado romano e o segundo liberto pelo Estado americano. Mesmo assim ambos chamam seu ouvintes para a responsabilidade que tinham de promulgar a paz entre os homens. Martin em seu discurso clama para que brancos e negros se deem as mãos como irmãos e Jesus choca a sociedade judaica cuidando de samaritanos, fenício-sírios, romanos e judeus. Ambos não encintavam a violência entre seus seguidores, Martin em seu discurso deixa isso bem claro e Jesus ao repreender Pedro que atacara um soldado romano ao defender seu mestre, ou padecer na mãos de seus inimigos calado como relatam os evangelhos.

            Por fim, Jesus e Martin eram dois líderes religiosos de muita influência entre os seus e odiados pelos seus opositores. Martin liderava uma massa de homens negros e simpatizantes brancos inicialmente do sul das doze colônias, já Jesus desde sua terra, Nazaré ao norte de Israel até Jerusalém ao sul, congregava em torno de si uma grande multidão de adeptos e inimigos. Ambos eram religiosos, um era pastor e líder da denominação Batista Ebénezer e o outro chamado de rabi pelos seus ouvintes, título dado aos mestre da lei que ensinavam a palavra de Iahweh para o povo. Não dá para situá-los numa luta por justiça social fora de suas influências religiosas, neste contexto a religião serve de trampolim para Martin chegar a fazer esse famoso discurso em Washington e Jesus utiliza-se dos espaços sagrados para o judaísmo como o Templo de Jerusalém e as sinagogas espalhados por Israel onde curava e ensinava ao povo.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Jesus ressuscitou, meu amigo

QUERIDO AMIGO.

Que a Graça e a paz do Senhor Jesus esteja contigo.

         Por meio desta carta gostaria de lhe esclarecer da parte do Senhor Jesus temas que te interessarão e que sei que te inquietam, como acerca da ressurreição do nosso Senhor.
         Sabemos que as Escrituras Sagradas bem falam a cerca da ressurreição do nosso Senhor Jesus e que os Apóstolos Pedro e o que Jesus amava, pela referência João, além das mulheres que fizeram parte do seu ministério terreno foram as primeiras testemunhas oculares. Cristo ao ressuscitar fez questão de anunciar às mulheres que participaram assim como os apóstolos do ministério do nosso Senhor como bem relata Mateus: E, indo elas a dar as novas aos seus discípulos, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os seus pés, e o adoraram. Então Jesus disse-lhes: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão à Galileia, e lá me verão (Mt 28:9-10). Depois das mulheres os dois discípulos, Pedro e João (o que Jesus amava), viram o sepulcro aberto e os panos enrolados em outro lugar, como o evangelista João assim fala: Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis, E que o lenço, que tinha estado sobre a sua cabeça, não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte (Jo 20:6-7).
Nosso Senhor Jesus escolheu a Galileia como encontro para aparecer a todos os que o seguiam. O mais impressionante é que a Galileia foi onde ele inicia seu ministério terreno, de pregação do evangelho e de libertação da opressão vivida pelo povo mais pobre e excluído da sociedade imperial romana e da religiosidade nacional judia. Isso vemos nos relatos do evangelista Marcos que não viu a Jesus, mas que mesmo assim creu nele: Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adiante de vós para a Galileia; ali o vereis, como ele vos disse (Mc 16:7). O ministério peregrino de Cristo iniciara na Galileia onde Ele chama os primeiros discípulos Pedro e seu irmão André, além de João e seu irmão Tiago, que eram pescadores, e nesta região começou a proclamar o evangelho do reino, a ensinar nas sinagogas e a curar os enfermos. É também na Galileia que Jesus anuncia sua morte e ressurreição, mas seus discípulos não compreenderam se recordando destas palavras quando o anjo que estava no sepulcro os lembra como nos mostra outro evangelista que creu em Jesus sem o ter conhecido, Lucas: Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galileia, dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite. E lembraram-se das suas palavras (Lc 24:6-8).
Em discurso sobre Jesus Pedro afirma no Pentecostes que a morte não pôde impedir que Jesus voltasse à vida e que Deus não deixou seu filho apodrecer na sepultura, mas antes o ressuscitou e hoje está assentado a sua direita assim como está escrito: A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela (At 2:23-24). Paulo diante do rei Agripa e de todos os que queriam matar-lhe afirmou que a vinda de Jesus, sua morte e sua ressurreição dos mortos nada mais foi do que o cumprimento do que disseram Moisés e os profetas, como está registrado: Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer, Isto é, que o Cristo devia padecer, e sendo o primeiro da ressurreição dentre os mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios (At 26:22-23).
       Escrevo-te estas coisas amigo para que compreendas que não é atual a descrença na ressurreição de Jesus Cristo e que os evangelistas e primeiros líderes da Igreja de Cristo se dedicaram a defender e a ensinar com suas próprias vidas e assim como Cristo ressuscitou iremos ressuscitar no último dia para vivermos de pleno gozo e alegria na presença do nosso Senhor. Todas essas palavras te sirvam para fortalecer sua fé em Jesus Cristo, hoje e sempre, amém!

sábado, 31 de agosto de 2013

JESUS e a tradição religiosa

Jesus e os fariseus
Desde o início do ministério de Jesus, como alguns teólogos atuais apontam, foi  um ministério de um pregador ambulante (no sentido de não fixar residência), onde provavelmente o Evangelho conforme Marcos seja o melhor meio de entender este ministério que ora questionava a administração romana opressiva, ora criticava a omissão dos líderes religiosos judeus, apresentado no contexto das curas, das viagens a localidades pobres e aos sermões de Jesus. Por menos vários personagens foram simplesmente esmagados pela repressão romana, mas aqui é diferente, é Deus agindo na história.
Os fariseus e doutores da Lei (que eram do partido dos fariseus) muito se incomodavam com as pregações de Jesus, principalmente da forma que ele mesmo se dizia ser, Filho do Homem, típico título escatológico judeu bem compreendido naquela época (encontramos esta referencia em Daniel 7). Jesus curava os enfermos, libertava dos cativos de espíritos imundos, perdoava pecados, anunciava um reino da parte de Deus onde todos podiam participar. Isso com certeza era bastante sério para a mentalidade dos poderosos judeus e romanos daquela ocasião. Roma temia as rebeliões em suas colônias (sempre inflamadas por algum líder popular) e os líderes religiosos que tinham criado um contexto de tradições a parte do que Deus tinha estabelecido para seu povo através dos patriarcas e profetas. Essas tradições eram mais importantes na prática religiosa cotidiana do que a própria Escritura Sagrada (esclarecendo que me refiro aos escritos da Lei, salmos e profetas principalmente lidos nas sinagogas).
Abaixo cito alguns exemplos desse embate entre os fariseus e doutores da Lei contra Jesus e seus discípulos:
Em Mateus 5.17 Jesus começa a esclarecer que não veio acabar com a Lei de Moisés tão sagrado para o judaísmo; em Marcos 7.1-13 Jesus responde com autoridade a críticas dos fariseus e doutores da Lei de costumes criados por homens e de se esquecerem dos mandamentos vindos de Deus (comer com as mãos sujas); em Lucas 6.1-5 Jesus se intitula "Senhor do sábado"; em João 2.13-21 Jesus esclarece a importância do Templo de Jerusalém que estava sendo profanado pelo comércio; ainda em Lucas 4.16-30 o relato reproduz o normal cotidiano dos judeus que viviam longe de Jerusalém e utilizavam a sinagoga como lugar de oração, leitura e estudo das Escrituras (Sinagoga de Nazaré), foram nessas sinagogas que muitas vezes Jesus ensinava ao povo.
Devemos ter cuidado com o que eu poderia chamar de "homem querendo falar por Deus". Neste contexto da época de Jesus, a mensagem de Deus foi gradualmente modificada para uma religiosidade alienadora de cumprimentos de rituais, sendo esses rituais religiosos resignificandos ou criados no decorrer do tempo. Desta forma a religião judaica serviu como uma ótima ferramenta de alienação de massa. Hoje em dia não é tão diferente, apenas com outros aspectos. Agora já podemos citar Karl Marx em sua frase bastante conhecida acerca da religião "como o ópio do povo". Enquanto Jesus libertava, o judaísmo aprisionava através da religiosidade. Atualmente as tradições e interpretações de símbolos antigos se mostra um ótimo negócio para as várias vertentes do cristianismo. A religiosidade se tornou mais importante do que a mensagem da cruz, totalmente deturpada e abandonada por muitos. 

Encerro esta reflexão com a dura crítica de Jesus aos religiosos judaizantes de sua época e que sirva de lição para nós atualmente: "Este povo com sua boca diz que me respeita, mas na verdade o seu coração está longe de mim. A adoração deste povo é inútil, pois eles ensinam leis humanas como se fossem mandamentos de Deus." Marcos 7.6b e 7.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

JESUS, O RABI CONTRA A LEGALIDADE DA RELIGIÃO OFICIAL

         
  É intrigante ler os dois casos relatados no evangelho de Marcos, onde Jesus cura um endemoninhado na sinagoga e uma mulher enferma em seu lar. O fato intrigante está em ser a sinagoga local de culto, instrução e oração a Deus, onde o evangelista registra a presença de um homem fora de si, dominado por espíritos imundos, cativo de seu próprio entendimento, dentro de um lugar onde teoricamente deveria estar liberto. O mesmo acontece com a cura da filha de Jairo, um importante líder do judaísmo, que recorre ao Nazareno como última opção para manter sua filha viva, mesmo sabendo que isso ia de encontro aos seus preceitos religiosos. Em contrapartida a Sogra de Pedro curada de uma febre que lhe impossibilitava de viver normalmente, é curada longe da religiosidade legalista do judaísmo, onde prontamente logo que lhe é restabelecida a saúde, a mesma passa a servi-los, mesmo que seja a mesa a refeição, não há uma atitude de alienação por parte dela e sim de devoção. O mesmo acontece com a mulher do fluxo de sangue, que gastara todo o seu dinheiro com a medicina, mas que nada adiantara a não ser lhe arrancar seus provimentos. Pobre, ainda enferma, excluída pelo rótulo religioso de impura, teve ousadia de enfrentar uma multidão e tocar Jesus de maneira diferenciada ao ponto de fazê-lo interromper sua caminhada em busca de quem lhe teria tocado entre tantos apertos pela multidão. Esse é mais um registro da ação de Jesus longe da religiosidade oficial, sem paredes ou mestres na Lei, apenas Jesus e os que ansiavam por liberdade.
            Porém isso não implica num rompimento de Jesus com a religião oficial, pelo contrário, Jesus ensinava na Sinagoga para ensinar nos sábados. Um paradoxo para os religiosos do século I na Palestina. Jesus de Nazaré cumpria a religião e seus rituais, mas também se metia com pobres, publicanos, prostitutas, “impuros”, dentre outros mais excluídos da sociedade judaica. Não é difícil imaginar a indignação dos Escribas e Fariseus como uma pessoa podia ser tão contrário à religião oficial e ao mesmo tempo utilizar dos mesmos espaços físicos religiosos para ensinar e em dia santo. O diferencial era que Jesus pregava de forma livre diante das exigências religiosas, pois elas impediam a prática da essência da vontade de Deus que era promover a vida em qualquer circunstância, além de valorizar em suas pregações o valor das ações em defesa da vida.
            A missão central de Jesus era cuidar do seu povo, começando pela saúde e reintegrando-os a convivência social. Era eliminar o que excluía os mais pobres em detrimento as minorias mais ricas. Escolheu a Galileia por se tratar de um lugar muito pobre onde o julgo romano custava mais por acentuar a pobreza do lugar. Daí Jesus de Nazaré ser um missionário itinerante, andava por várias localidades pregando a salvação vinda de Deus e curando os enfermos, operando milagres, convertendo as pessoas (no sentido de provocar mudança em suas vidas para a garantia coletiva da vida).
            Jesus não prioriza os mais importantes da sociedade judaica, e sim os marginalizados, isso se evidencia quando observamos a mulher do fluxo de sangue que consegue parar a caminhada de Jesus à casa de Jairo, onde teve que esperar o Nazareno curar a mulher religiosamente impura para depois continuar seu trajeto até a casa do líder religioso. Partindo da consciência de que o Reino de Deus já se faz na história, Jesus reintegra as pessoas oprimidas à sociedade tanto com o corpo saudável quanto com a mente sã. Jesus então pode ser denominado como o Profeta do Reino de Deus, onde Deus revela seu amor e seu cuidado em favor dos mais oprimidos, os mais sofridos. Jesus de Nazaré gradualmente se tornara um líder sociorreligioso popular, que agia em função de garantir a vida aos mais oprimidos, assim como ovelhas sem pastor, Jesus se tornara o mestre popular da Palestina pobre.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O NAZARENO AMANTE DOS POBRES

               Partindo da observância do contexto histórico da Palestina do século I, poderemos compreender melhor a razão pelo qual Jesus de Nazaré operara tantos milagres entre o povo como podemos perceber nos escritos dos Evangelhos, principalmente os sinópticos – Mateus, Marcos e Lucas.
            É importante destacar que o local onde Jesus iniciara seu ministério foi a Galileia, onde as pesquisas mostram que nesta área do norte da Palestina se concentravam os lugares mais pobres da região. Estamos tratando de um povo sem alguma esperança em uma vida menos árdua, menos desigual, menos injusta como a destas pessoas que habitavam as vilas, cidades e outras localidades da Galileia. Não é de se estranhar que Jesus de Nazaré tenha começado a operar seus primeiros milagres na região mais pobre de Israel, onde o povo estava desacreditado e sofrendo pela opressão do dominador romano e da pressão religiosa que os excluíam ainda mais. Jesus passa ser visto como a solução imediata para problemas de impotência humana, como as doenças físicas, as possessões e distúrbios corporais.
            Jesus queria de início proporcionar a liberdade mental (dos possessos), a liberdade física (aos deficientes) e a liberdade de vida (dos enfermos). Daí o Nazareno ser visto como aquele que desejava reestabelecer a dignidade das pessoas excluídas pelo poder político opressor e pela religião oficial excludente. Pessoas impuras, castigadas por seus pecados, indignas até de visitação, todas elas rotuladas pelos religiosos, era exatamente para quem Jesus doava seu tempo e sua compaixão, numa missão itinerante, de vila em vila, restituindo a dádiva da vida que estivessem em risco por qualquer motivo.
            A população mais pobre e mais marginalizada pelo Estado e pela Religião Oficial, era em sua maior parte agricultores, que via nas doenças e nos transtornos mentais um sinônimo de mais empobrecimento, incapacidade de manter-se e consequentemente fome e outras crises econômicas. A cura desses entraves para a vida do povo era não só necessária, mas sim altamente desejada e procurada por quem padecia. Daí o perigo constante de serem enganados por falsos milagreiros e curandeiros. A missão de Jesus se centrava em conceder liberdade efetiva a todos oprimidos e excluídos socialmente.
            O Reino de Deus que logo vem, também estava relacionado com a saúde física e mental das pessoas na crença de um Deus que vem em favor dos que sofrem. Num apelo a fé por suas curas entre o povo, Jesus ensinava-os a confiar em Deus e a aceitar a oferta de salvação, que aí incluía a salvação dos males que atingiam o corpo e a saúde, numa espécie de salvação completa. Seguir a esse Jesus entre os pobres implicava viver uma experiência individual que automaticamente geraria a necessidade de testemunhar da graça de Deus, contando aos que encontrasse a cerca da maravilhosa e miraculosa experiência com o Nazareno.